Não, não é uma piada de um carnívoro, mas uma questão real, à qual os estudos começam a concorrer para responder.
17% da ingestão calórica global é composta por calorias provenientes do consumo da carne. Mas para produzir tal carne, as indústrias consomem quantidades desproporcionais de água e nutrientes. No geral, a indústria que produz carne é responsável pela produção de até 18 por cento dos gases de efeito estufa. Esta quantidade varia ao longo do ano, mas nunca cai abaixo dos 8%. Basicamente, a produção da carne polui tanto quanto os carros. Além disso, por mais ridículo que possa parecer, há estudos, tais como os dirigidos pela Organização de Alimentação e Agricultura da ONU, que sublinha que os ruminantes (criados para consumo) geram anualmente cerca de 100 milhões de toneladas de metano, um gás com efeito de estufa 25% mais forte do que o dióxido de carbono.
Um estudo recentemente publicado na revista Proceedings of National Academy of Sciences calculou os benefícios de uma dieta pobre em nutrientes e uma dieta sem carne, projetando o impacto de cada uma até 2050. As conclusões dos cientistas são pelo menos surpreendentes. Se os comedores de carne baseassem a sua dieta em cerca de cinco porções de frutas e vegetais, estariam a ingerir menos 50 gramas de açúcar e consumiriam cerca de 43 gramas de carne vermelha, acumulando um consumo diário de 2200-2300 calorias, as emissões de gases de efeito estufa aumentariam em apenas 7% até 2050, em comparação com 51% que vai aumentar, caso se mantenha o ritmo atual de consumo. No caso de uma súbita e radical mudança para o vegetarianismo, o nível das emissões poderiam cair até dois terços, enquanto que a adoção do veganismo reduziria em cerca de 70%
Para os outros, mas para ti também
Uma dieta inteligente não é apenas responsável pelo ambiente, mas também pela própria saúde. A redução do consumo de carne vermelha, especialmente a processada, poderia reduzir o risco de doenças cardiovasculares e o desenvolvimento de alguns tipos de cancro. O mesmo estudo revela que a morte de cerca de 5 milhões de pessoas poderia ser evitada durante as próximas três décadas se as pessoas consumissem uma quantidade de carne mais modesta. Se o vegetarianismo fosse mais difundido, o número de vidas salvas subiria para 7 milhões, e se as pessoas adotassem o veganismo esse número aumentaria para 8 milhões.
Uma história com “eco-heróis”
Por outro lado, os omnívoros ripostam argumentando que para a adoção de uma dieta totalmente vegetariana deve-se levar em conta todo um complexo de fatores que vão além do interesse individual e da esfera da ecologia. Joanna Blythman escreveu para o The Guardian que os vegetarianos devem confrontar “a verdade inconveniente das consequências a longo prazo proveniente da sua dieta.” A colunista declara que grande parte dos alimentos favoritos dos vegetarianos dos países ricos provêm da exploração da agricultura nos países pobres.
Blythman dá o exemplo do cereal quinoa (que se pronuncia “keen-wa” e não “qui-no-a”), que rapidamente foi integrado na dieta vegetariana devido às suas qualidades, mas cujo consumo crescente tem efeitos adversos nos países onde é cultivado. Os ocidentais passaram a consumir a quinoa em massa. Devido a isso o seu preço de produção aumentou de tal forma que os residentes nas áreas onde a planta é cultivada já não têm recursos para a comprar para o seu próprio consumo.
Outro editorial publicado também no The Guardian, desta vez por Mimi Bekhechi, reprova Blythman que quer fazer dos omnívoros uma espécie de “eco-heróis”. Bekhechi diz que a solução não é a abstinência de quinoa, porque, de acordo com o Worldwatch, o vilão é na realidade a agricultura de forragem, vital para o crescimento do gado. “O consumo de carne requer um uso ineficiente de grãos – os cereais poderiam ser usados de forma mais eficaz se fossem consumidos diretamente por pessoas”, conclui Bekhechi.
Os jornalistas de The Economist sugere, em uníssono com os pesquisadores que, mais realista do que a conversão global ao vegetarianismo seria uma melhor gestão das terras cultivadas com forragem e a mudança do menu dos animais de criação. Essa mudança deve começar com os países ricos que têm mais opções culinárias, especialmente porque as projeções atuais indicam que até 2050, o consumo de carne vai aumentar em mais de 75%.